quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Espinheiro, avalanche...


Como aparar o espinheiro de enganos do homem?
Luther, W. H. Auden

Se há uma definição para a maior parte das idéias que constituem a mentalidade moderna, essa é “espinheiro de enganos”. Thanks, Mr. Auden! Pode-se pensar também numa avalanche de equívocos que pegou o homem no meio da montanha, engoliu-o, desarticulou-o e impulsionou-o com violência até um vale gelado, onde a neve evapora e forma uma densa névoa que impede a visão e fere os pulmões.

A facilidade com que o espinheiro de enganos moderno pode ser refutado me assusta tanto quanto a força com que ele se legitima e a fúria com que é defendido pelos que estão por ele enredados. Noções simplórias do que é ciência, do que é a fé, do potencial e dos limites da razão, além de preconceitos absurdos com o saber dos gênios do passado e de povos milenares. É claro que nem tudo nas tradições presta, mas mesmo muito do que a modernidade advoga ter libertado o homem é falacioso. Muitas dessas “soluções” se basearam em premissas tortas, e logo os problemas ressurgiram com contornos ainda mais macabros. Os exemplos estão aí: na política, o intervencionismo estatal é uma praga que corrói liberdades e recursos; na relação homem/mulher, o feminismo transformou mulheres em brucutus melindrosos; na ciência, materialistas transformam a abstração dos dados empíricos no fato em si e tornam-se robôs de si mesmos. E o que dizer do desespero dos existencialistas? Os exemplos compõem uma lista é longa, e os entusiastas de cada um desses cabrestos são maioria. Talvez por isso as indústrias do entretenimento e do turismo cresçam tanto. Essas pessoas não suportam mais a si mesmas, e precisam sempre de alguma atividade muito prazerosa para calar ao menos por alguns momentos aquela sede espiritual que sem dúvida é o traço mais marcante da natureza humana (e que faz os ateus militantes serem tão inquietos e importunos). Alguma atividade repleta de voluntarismo idealista também ajuda e faz o sufocado moderninho se considerar alguém importante, lutando “por um mundo melhor e pela paz mundial”, ao melhor estilo Ninrode/Torre de Babel. Já que aparar o espinheiro, ou sair de debaixo da neve requer coragem intelectual, espiritual, e o pior de tudo, está fora de moda, eis os paliativos.

- Ai, Eliot, dá um tempo! Justo hoje, no dia da rave você me vem com esse papo! Tenha dó!

Dó? Tenho. Muito!

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