sábado, 6 de maio de 2006

A redução ontológica e o “Ide”

Liga-se a tevê e eis os telejornais com aquela avalanche de preocupações com saúde pública, amparo aos aposentados, direitos trabalhistas de toda ordem, “cidadania” e todas aquelas nojentas palavras-de-ordem lacrimogênias com o termo “social” no fim. A primazia dos impulsos secundários. Repetem-se os clichês em favor da “auto-estima”, conceito estranho, difuso, que, sob seus auspícios, faz florescer a nova geração dos ególatras com sua peculiar moral de plástico, coitadista, cinicamente multiculturalista e politicamente correta.

O homem moderno parece um frágil bichinho de estimação que a cada passo que dá precisa de mil e um cuidados do Leviatãzão estatal, esse hábil amestrador. Um frouxo, um chorão, um covarde, um subserviente.

A fé, a família, as responsabilidades pessoais, a defesa da pátria, a defesa dos valores que proporcionaram o desenvolvimento da sociedade – os impulsos primários - tudo isso é um fardo pesado demais para o homem moderno. Para essas coisas tenta-se de todas as formas criar “novos paradigmas”. Ávida está a Academia para enterrar o que chama de “famíla tradicional”. A combinação da cultura de shopping center com as ideologias de massa fizeram do cidadão ocidental médio um autêntico palerma. Que já cogita entregar-se servilmente aos homens-bomba, ainda que devidamente anestesiado com lixo acadêmico e midiático, mas que não hesita em abortar um filho que venha obstruir sua vida umbigolátrica de poodle com a camisa do “Che”.

Eric Voegelin usou o termo redução ontológica para se referir a essa mudança de enfoque sobre aquilo que realmente importa para uma civilização. De Deus, do summum bonum, caiu para o summum malum – o medo da morte, introduzido por Hobbes. Depois buscou-se a estabilidade da ordem civilizacional na “Razão”, com “r” maiúsculo, dos desastrados e satânicos iluministas. Mas logo esta logo é pisoteada pelo utilitarismo de John Stuart Mill. Nas palavras de Voegelin, a fase final do processo:

A tentativa de substituir a razão pelo útil foi seguida por outras etapas de descensão ontológica – como, por exemplo, pelo descenso às forças tecnológicas da produção, em Marx; à estrutura racial dos grupos humanos, em Gobineau e seus seguidores; e, finalmente, aos impulsos biológicos, na psicologia do inconsciente. Assim, a substância da ordem desceu, na escala ontológica, a partir de Deus, resvalando hierarquia abaixo pela razão, a inteligência pragmática, a utilidade, as forças de produção e determinantes raciais, até chegar aos impulsos biológicos.

Concluindo: Jesus orientou: buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas, mas nos últimos séculos tentou-se forjar as mais estapafúrdias alternativas para contornar este mandamento e sua amável promessa. Não se buscou o Reino de Deus e agora outros reinos - o de Allah e o do Estado-babá, protótipo do reino do Anticristo - estão aí, às portas.

Estão os cristãos preparados para reconduzir ao menos o Ocidente (a ordem na realidade é: ide POR TODO O MUNDO e pregai o Evangelho) aos pés da cruz? Ou será que os impulsos biológicos falaram mais alto que o Espírito Santo na vida dos ocidentais sedizentes discípulos de Cristo?

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